quinta-feira, 25 de abril de 2013

De susto, de bala ou vício?


A insegurança é artificial, eu sei, uma fantasia tola inventada talvez pelos fracos, canto delirante de inocentes que se fingem de mortos quando atacados em suas casas que não deveriam ter grades, quando vítimas de assaltos invisíveis nos becos. A insegurança é absolutamente artificial, ninguém sabe onde nem quando ela aparece feito uma virgem canônica, as câmeras penduradas nos postes não flagram temores e as gravações em videoteipe não alcançam um revólver falso com o seu estampido de espoleta.

Não existe a insegurança. Tanto falam, mas ninguém a vê de fato simplesmente porque ela não está no meio de nós. A insegurança é apenas o ópio dos covardes, gente de fé miúda, de poucas mãos levantadas aos céus. É artificial a insegurança assim como é artificial a inteligência de um povo que acredita em delegacias abarrotadas, sequestros relâmpagos, chacinas, crimes de encomenda, latrocínios e outras crendices dolosas.

A insegurança é tão artificial que não resiste sequer ao sussurro de uma polícia igualmente artificial. E como a insegurança é a própria falsidade manipulada em laboratório, soldos nos bancos e coturnos nas ruas são uma miragem programada em computadores de camelôs coreanos.

A bala alojada na cabeça de uma senhora que caminhava na lagoa era um projétil sem teto, sem brevê e com pouca autonomia de voo. Escapuliu de uma pistola de brinquedo que por acaso foi cair nas mãos de um jovem tão artificial quanto a insegurança que assombra poltrões à luz do dia. Mas fica decretado que é proibido ter medo da própria sombra, afinal a insegurança é prima-irmã da assombração.

Se existiu, a insegurança morreu de morte natural. O obituário está nos jornais de hoje. Não houve crime, não existem suspeitos ou provas de disparos, estilhaços ou qualquer cheiro de pólvora, não restaram vestígios do boletim de ocorrências. A insegurança repousa agora no seu sepulcro artificial.

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