domingo, 13 de maio de 2012

Nem maio nem agosto

Os pais não são amados como deveriam, com aquela intensidade desmedida que merecem. Em qualquer lugar, em qualquer casa, fica sempre a impressão de que faltou mais carinho, mais beijo no rosto, mais afago, mais afeto dos filhos, mais olho no olho. Ficamos devendo. E essa fartura de compreensão só nos alcança, invariavelmente, quando eles se vão. Sim, eles se vão um dia! Esses pais que amamos tanto - e contra quem nos revoltamos em certos instantes da vida, em ligeiros surtos de imaturidade ou autossuficiência – têm prazo de validade. Muitos deles têm asas, mas são de carne e osso. Falíveis anjos da guarda.

Não nos falta amor, é verdade. Mas amamos de menos porque estão ali à nossa volta, no nosso encalço, a nos defender das tocaias do mau olhado, do quebranto, a nos proteger a moleira. Amamos de menos porque – ingenuamente acreditamos – jamais vão nos deixar. E porque nos amam demais, nos excedemos na falta de atenção, nas respostas malcriadas, na indiferença. Há nos filhos a autoconfiança de que perdão de pai e mãe não demora. Não demora mais que uma chuva. O perdão vem de braços abertos e com um sorriso largo para embrulhar o sentimento de culpa. É aquela culpa cristã que nunca houve, mas que os pais cultivam a pretexto de assumir um pecado que não é e jamais será deles no julgamento celestial.

Olhando pra trás – e é difícil olhar no retrovisor antes dos 30 anos – fica a sensação de que faltou o abraço demorado nos pais. Faltou um cinema no domingo com direito a pipoca, jujuba e caramelo. Faltou aquela viagem de férias pra passear de mãos dadas pelo parque. Faltou paciência para compreender as rabugices naturais dos pais quando eles passam dos 60 anos. Faltou coragem pra dizer mais vezes “eu te amo”, todos os dias da vida. Faltou tempo!

Faltou tempo para perceber que a vida é pouca pra se abrir mão da felicidade. Esquecemos de reconhecer, ao longo da caminhada, que os pais têm sempre razão. E mesmo quando não têm, eles são a própria razão. No mínimo, a razão da nossa existência!

Faltou ternura. E mais cabeça no colo para um cafuné depois do almoço em família. Será que toda aquela cumplicidade foi suficiente? Sequer ouvimos juntos todas as músicas que falavam da gente. Assistir ao futebol de domingo no mesmo sofá ficou escasso. Todo aquele cheiro foi pouco.

E nada será o bastante para se cuidar do nosso amor primeiro. De verdade. O amor de pai e de mãe, esse amor que se confunde, embaralhado, sem gênero ou RG. Um e outro, nem maior nem menor. Nem maio nem agosto. A vida inteira.

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