quarta-feira, 15 de junho de 2011

A tortura, o jornalismo e a queda do delegado

No dia 15 de junho de 1999, há exatamente 12 anos, o então presidente Fernando Henrique Cardoso empossara o delegado João Batista Campelo como diretor-geral da Polícia Federal, numa cerimônia relâmpago, que gerou um grave problema de imagem para o governo tucano. No centro da crise estava o ex-padre maranhense José Antônio de Magalhães Monteiro que, ao ouvir rumores da provável nomeação na PF, resolveu abrir a caixa-preta que escondia certos segredos da carreira policial de Campelo.

Monteiro contou que fora torturado por Campelo em 1970 durante interrogatório na subdelegacia da Polícia Federal em São Luís (MA). A confissão do ex-padre abriu o apetite da imprensa sobre o assunto. As informações de Monteiro foram ratificadas inicialmente pelo bispo de Viana (MA), dom Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges, em entrevista publicada no jornal “O Estado de São Paulo” e reproduzida no jornal “O Estado do Maranhão”. As denúncias de tortura ao ex-padre também foram confirmadas pela então prefeita de Belágua (MA), Rosalina Costa Araújo, em reportagem especial publicada com chamada de capa no “Estadão”. Rosalina admitiu pela primeira vez, depois de 29 anos de silêncio sobre o episódio, que fora coagida moral e fisicamente pelo delegado Campelo a prestar depoimento acusando Monteiro.

E o que pesava sobre o maranhense? Monteiro, ao lado de dom Xavier, era tido pela Polícia Federal como integrante da ala progressista da Igreja Católica, responsável por acobertar “movimentos subversivos” pelo Nordeste, o que em tese representava uma ameaça ao regime militar. O trabalho das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) era acompanhado de perto pelo aparelho repressor do Estado. Por ter servido ao exército francês, dom Xavier foi acusado pela polícia de participar da guerrilha que encampou a Frente de Libertação Nacional da Argélia.

Monteiro e Xavier foram vigários na mesma paróquia de São Luís. Após o cerco do regime, ambos ficaram durante três semanas presos na mesma cela, no quartel da Polícia Militar, no atual Convento das Mercês. Monteiro foi detido primeiro, e provavelmente torturado antes da prisão de Xavier. Contra os padres, segundo contou em entrevista dom Xavier, a PF alegou a Lei de Segurança Nacional. Xavier escapou da tortura graças à intervenção do então arcebispo de São Luís, dom João Mota, que já havia constatado escoriações em Monteiro.

José Antônio de Magalhães Monteiro, que é irmão do presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Luís, Leonardo Monteiro, mesmo morando fora do Maranhão, não deu trégua à nomeação de Campelo para o posto principal da Polícia Federal. De Viana, Dom Xavier Gilles também deixou o silêncio de lado e levantou a voz contra a sombra da tortura. Por pressão da imprensa e da opinião pública, João Batista Campelo foi defenestrado do cargo três dias após a posse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário