segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Waly Salomão: uivos de uma fera faiscante

A entrevista postada abaixo foi publicada em 1996 no jornal O Estado do Maranhão. Waly Salomão era o verborrágico e estridente interlocutor daquela noite de junho. São Luís era São João. A cidade, uma fogueira colorida de centelhas. Waly, um ser humano em ebulição em plena Praia Grande.

Os casarões e as mesas de bares exibiam tons inebriados da lua azul. Começamos a entrevista beirando aquela atmosfera cintilante da cidade. Era o primeiro mergulho do baiano de Jequié nas águas turvas de São Marcos. Falou de poesia, produções culturais e de sua herança cultural árabe. Contou de suas paixões pela negra melodia do reggae e falou do fascínio pela trajetória de Alcione. Para a interpretação de Maria Bethânia ele compôs A voz de uma pessoa vitoriosa, um inventário de amor aos altos e baixos enfrentados pela cantora maranhense no início de carreira, no Rio.

Ficou impressionado com o que viu e ouviu no Maranhão: o Teatro Arthur Azevedo e suas óperas bicudianas, as umbigadas no tambor de crioula, o Boi de Leonardo e o terreiro de São Pedro.

Ainda estive com Waly em Brasília em março de 2003. Burocraticamente instalado num dos gabinetes mais frequentados no sexto andar do Ministério da Cultura, Waly Salomão parecia entusiasmado com a missão de chefiar, a convite do então ministro Gilberto Gil, a Secretaria Nacional do Livro e da Leitura. A minha missão, além de rever o amigo, foi entregar os originais do livro inédito de poesia de Fernando Abreu (O umbigo do mudo, depois lançado pela Clara Editora) para que Waly escrevesse o prefácio. Não só recebeu a ideia com satisfação como telefonou para o poeta maranhense.


- Meu caro Fabreu, continue fabricando a sua bela poesia que eu estarei em abril em São Luís.

Ele escreveria o prefácio na viagem. Na verdade, um pretexto para voltar ao Maranhão. Telefonou logo para o amigo poeta Antônio Cícero convidando-o para fazer, juntos, um recital em São Luís. “Quero voltar à base da Lenoca para comer uma torta de camarão com arroz de cuxá”.

Não houve o cuxá, o prefácio minguou. Waly Salomão morreu no dia 5 de maio de 2003. Antônio Cícero adiou ou planos. Onde está Waly? Fazendo algaravias no telhado da sorte. Talvez inventando livros, negociando ciganos. Quem sabe passando uma lábia no jardineiro. Sabe lá!

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